Não é novidade que o comportamento dos pais, em certa medida, influencia o
comportamento dos filhos. E, quando se trata de consumo, a influência pode ser
ainda maior. E os danos também. Pais consumistas têm grandes chances de terem
filhos que, quando adultos, se tornem consumistas também. Contudo, mesmo quando
a família tenta manter o controle no orçamento, os filhos podem ir no sentido
contrário desse exemplo.
Os motivos para esse comportamento são muitos e variam desde exemplos de fora
do núcleo familiar, como os de amigos e parentes da família, até a influência
das propagandas e amiguinhos que têm aquele tênis novo, aquele jogo incrível e
aquela boneca que fala. E como saber se o seu filho é um pequeno consumidor
afoito por consumo?
O especialista em educação financeira e autor de livros sobre finanças para
crianças, Álvaro Modernell, explica que existem sinais que ajudam os pais a
identificarem um comportamento fora do normal com relação ao consumo das
crianças. “O primeiro sinal é o inconformismo a tudo o que ela tem”, diz. A
constante insatisfação com os brinquedos e roupas que tem faz com que a criança
peça mais. E esse é mais um sinal de um futuro comportamento consumista.
O especialista ainda ressalta que, quando a criança está muito atenta a
marcas, os pais precisam redobrar a atenção. “Veja quanto tempo dura a mesada”,
aconselha. Se ela acaba muito rápido, é preciso que os pais façam um diagnóstico
dos gastos da criança, como explica o educador, terapeuta financeiro e
presidente do Instituto DSOP de Educação Financeira, Reinaldo Domingos. “É
importante que os pais façam um registro de todo o dinheiro que dão aos filhos
por um mês, antes de instituir a mesada”, diz.
A partir dessa conta, eles verificam se os gastos estão saindo do controle. E
o normal nesse caso, explica Domingos, é o que está de acordo com a renda dos
pais. “A partir disso, é hora de instituir a mesada, que deve ser 50% do valor
observado pelos pais durante esse mês”, aconselha Domingos.
Evitando o excesso
Modernell ressalta que não existe problema em consumir. “A questão sempre é
o excesso e a frequência desse consumo”, diz o educador. E, para evitar que o
pequeno se torne um adulto consumista, ao verificar os sinais que pode levá-lo a
isso, os pais precisam agir. “A começar por dizer não”, afirma.
Atentar aos exemplos é primordial. Modernell explica que os pais precisam ter
a certeza de que o comportamento negativo deles não está sendo copiado. Domingos
reforça que, para que os pais tenham controle dos gastos e do comportamento de
consumo dos filhos, eles precisam ter o controle do próprio orçamento.
“Cada família tem o seu padrão de vida. E somente ela pode saber o que pode e
o que não pode ser dado para a criança”, diz. Ainda assim, Domingos acredita que
as famílias que querem passar bons exemplos devem fazer um planejamento de suas
contas para, depois, fazer o planejamento das contas da criança.
A partir desse momento, os pais devem incentivar os gastos com objetivos.
“Perguntar para a criança quais são os sonhos dela, seja um jogo novo ou uma
viagem para a Disney, e fazê-la entender que certos sonhos têm um preço ajuda
ela a entender o valor que o dinheiro tem”, afirma.
Atrelar o sonho à mesada da criança também ajuda. “Se os pais a fizerem
entender que, ao guardar 20% ou 30% da mesada, ela pode conquistar esse sonho, a
criança cria autonomia e controle sobre o próprio dinheiro que ganha”,
aconselha. “Ela precisa entender que o sonho é mais importante que o consumo”.