Além de um exaustivo questionamento sobre as experiências profissionais e
acadêmicas, os conhecimentos, as habilidades e os cursos que o candidato fez
durante sua vida, na hora da seleção, as empresas também querem saber sobre a
situação amorosa e se os concorrentes moram sozinhos, com os pais ou com amigos.
Mas, para que tudo isso?
Alguns consultores de recrutamento e seleção concordam que as perguntas são
importantes e têm seus objetivos, mas avisam, elas apenas sinalizam questões que
podem vir a ser confirmadas ou não. Por exemplo, estar perto dos 30 anos e morar
com os pais é algo que determina que a pessoa é acomodada? Não necessariamente.
O gerente de relacionamento da Foco Talentos, Gustavo Nascimento, explica que
os recrutadores partem dessa resposta para compor o perfil do candidato. Logo,
sabendo que o profissional está numa faixa etária relativamente avançada, e
ainda mora com os pais, o recrutador vai tentar detalhar mais essa questão.
O aprofundamento é importante porque a resposta em si não é suficiente para
determinar muita coisa. “Muitas vezes o candidato tem 30 anos, mora com os pais,
mas é o responsável por quase todas as contas em casa. Assim como tem candidato
que mora sozinho, mas os pais pagam todas as contas e ele não tem
responsabilidade com nada”, avalia Nascimento.
Serão determinantes, portanto, as demais perguntas que vão ser feitas ao
candidato. Ou seja, só com mais elementos em mãos, como, no caso do candidato
morar sozinho, qual sua fonte de renda, quem paga o aluguel, porque ele optou
por sair de casa, qual a relação que ele tem com a família, é que será possível
traçar seu perfil.
O perfil da empresa exige
Há casos também em que as empresas simplesmente fazem esse tipo de pergunta
porque querem profissionais que se encaixem no perfil da companhia. No caso da
seleção de estagiários, por exemplo, tem empresas que preferem pessoas que morem
com os pais, pois acreditam que, por conta disso, elas têm uma base familiar
mais forte, fato muito valorizado pela empresa em questão.
De acordo com o diretor da Bazz, consultoria de recursos humanos e coaching,
Celso Bazzola, “tem empresas que prezam o convívio familiar e vão preferir
aqueles estagiários que ainda vivem com seus pais”. Vale ressaltar que isso não
deve ser entendido como uma questão de preconceito, mas sim de enquadramento de
perfil.
Um caso clássico, no qual a pergunta de ser solteiro ou casado pode acabar
interferindo na contratação, é na seleção de vendedores e profissionais para as
vagas de eventos. Essas vagas requerem grande flexibilidade da pessoa por conta
da alta frequência de viagens. “Quando a pessoa é casada, tem filhos,
dificilmente terá tanta disponibilidade”, pontua Bazzola.
Se parece lógico que se uma pessoa está nesta situação ela não irá se
candidatar a esse tipo de vaga, nem sempre as coisas são bem assim. De acordo
com a consultora de recrutamento e seleção da Ricardo Xavier Recursos Humanos,
Mailara Germano, na ânsia por conquistar o emprego os candidatos acabam
afirmando que possuem muito mais flexibilidade do que na realidade têm.
A pergunta que aborda o seu estado civil e os dependentes serve justamente
para confirmar a situação. “Para saber da sua flexibilidade, é sempre preciso
saber como é sua estrutura familiar, ou seja, quantas pessoas dependem dele,
tanto financeiramente quanto psicologicamente”, observa Mailara.
Mas, de qualquer forma, isso também vai depender muito da realidade do
candidato. “Tem pessoas casadas há anos que o companheiro também está em um
cargo no qual tem que viajar muito. Nesse caso, por exemplo, não haverá
interferência".