Depois de ingressarem no mercado de trabalho em peso, as mulheres estão em
busca de informação para lidar melhor com o dinheiro e, por que não, investir no
mercado de ações. No dia delas, descobrimos que cada vez mais as mulheres se
enveredam pelo mercado de renda variável, em busca de melhores rendimentos e
maior estabilidade financeira.
Para se ter uma ideia da força delas no mercado acionário nacional, em nove
anos, o número de investidoras na BM&FBovespa se multiplicou por dez. Em 2002,
elas não passavam de 15 mil e representavam 17,6% do total de investidores. Em
fevereiro deste ano, o número saltou para quase 150 mil, o equivalente a um
quarto dos investidores pessoa física da Bolsa.
Segundo a consultora da BM&FBovespa, Tércia Rocha, uma das características
dessas mulheres investidoras é que elas estão sempre em busca de conhecimento.
“Elas conseguem lidar com diferentes assuntos, procuram nossos cursos e se
atualizam. Como têm o planejamento da vida na mão, conseguem ter uma visão de
médio e longo prazo que é importantíssima”.
Procura de aprendizado
A bancária Adriana Lopes da Silva, 33 anos, é exemplo da busca do
conhecimento por parte das mulheres. Ela decidiu aprender mais sobre o mercado
acionário para uso tanto na vida pessoal, para poder investir, quanto na
profissional, para auxiliar os seus clientes na escolha dos melhores
investimentos.
“Queria ter uma noção de como era o mercado de ações. Já trabalho como bancária
e também pretendo tirar o certificado da Anbima [Associação Brasileira das
Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais] exigido pelo banco para que
possa indicar investimentos para os clientes”, diz.
Essa busca por informação é apontada por Tércia como fundamental para o sucesso
no mercado de ações. “É importante que as mulheres estejam bem informadas para
comprar e vender qualquer ação, para poder investir de forma correta. É a
informação que ajuda o investidor e, no Brasil, ela é gratuita", aponta, citando
que há cursos, palestras e sites gratuitos sobre investimentos.
Como boa parte das pessoas que não estão acostumadas com o mercado de ações,
Adriana achava este tipo de investimento muito “agressivo” e tinha medo de
perder tudo. “Mas depois vi que não é nenhum 'bicho papão'. Agora, pretendo
conhecer melhor, fazer mais cursos, até me sentir segura para começar a investir
meu dinheiro em ações”, diz.
Colocando ordem em casa
Muitas pessoas precisam, antes de começar a investir, equilibrar as finanças
e, entre as mulheres, a busca por cursos também tem esse objetivo. Este é o caso
da funcionária pública Ângela Maria Fernandes, 56 anos, que sempre teve
dificuldades na vida financeira e resolveu procurar um curso da BM&FBovespa para
ver se conseguia melhorar seu “relacionamento” com o próprio dinheiro.
“Sempre fui muito desorganizada com minhas finanças. Meu filho já investe em
ações e sugeriu que eu fizesse o curso, para lidar melhor com meu dinheiro e
aprender a importância de poupar e investir”, afirma.
Para Ângela, uma das maiores dificuldades era conseguir separar um valor do
salário por mês para destinar a alguma aplicação. “De uns tempos para cá, não
sobrava quase nada do meu salário e, por isso, eu nem pensava em fazer nenhum
investimento. O máximo que fazia era colocar algum valor na poupança, para usar
em caso de alguma emergência”, lembra.
Agora, ela já pensa até em começar a investir em ações. “Depois de fazer o
curso, aprendi a me organizar melhor e estou mais animada para começar a
investir. Vi que existem outras possibilidades que, de repente, a poupança não é
a melhor opção e que posso aplicar meu dinheiro de outras maneiras”, afirma.
A diretora do Link Trade, home broker da Link Investimentos, Monica Saccarelli,
reconhece a situação de Ângela como a de muitas brasileiras: “Na dúvida, elas
começam a colocar o dinheiro na poupança, mas a mulher está cada vez mais
conquistando a independência e a principal dúvida que está surgindo é em quê e
como investir? Às vezes, ela sabe guardar dinheiro, mas não sabe onde investir”,
afirmou.
O sustento do lar
Depois de procurar aprendizado e colocar ordem nas finanças, algumas
mulheres têm tido bastante sucesso no mercado acionário, tirando até mesmo o
sustento do lar dos papéis negociados em bolsa de valores. A dona de casa Maria
Paula Midaglia, 45 anos, pode atestar que isso está realmente acontecendo no
Brasil.
A dona de casa, que aprendeu a importância do longo prazo na prática, já investe
em ações há mais de dez anos e, junto com o marido, consegue tirar daí o
sustento da família. “Quando comecei a investir em renda variável, tinha muito
mais medo. Hoje, já tenho mais experiência, sei qual papel devo comprar e qual
devo vender e em qual momento. Quando a ação começa a cair, eu não me desespero
mais, sei que devo aguardar e esperar que ela suba”, afirma.
Maria Paula começou a investir por influência do marido, que já foi bancário e
também trabalhou na Bolsa de Valores. “Aprendi sozinha, vendo meu marido. Hoje,
nós dois investimos e conseguimos nos manter com aquilo que ganhamos com os
investimentos”, diz.
Elas x eles
De acordo com a doutora em psicologia econômica Vera Rita de Melo Ferreira,
por enquanto, o comportamento de homens e mulheres ainda é diferente quando o
assunto é investimentos, mas tende a se igualar.
“Elas são mais cuidadosas, mais conservadoras, têm menos familiaridade com o
mercado financeiro e com questões de finanças, então elas ficam com mais receio
e vão atrás de informações. O homem já é mais arrojado. Estamos vendo que
mulheres mais jovens estão começando a investir deste jeito”.
Já a consultora financeira Eliana Bussinger discorda da visão de que as mulheres
são conservadoras nos investimentos. “Em uma pirâmide de investimentos, no topo
com modalidades mais arriscadas, lá em cima tem onde os homens estão mais
aplicando. Mas lá em cima está o investimento em empreendimento próprio e, neste
ponto, elas estão empreendendo mais. Abrir o próprio negócio é um dos
investimentos de maior risco”, ressalta.
* Reportagem de Diego Lazzaris e Flávia Furlan Nunes