Simplesmente perguntar ao gerente do banco em que produto investir pode ser um
grande erro; veja o que dizem os especialistas
Gustavo Cerbasi: Não pulverize demais seu capital entre vários fundos
Entrar em uma agência bancária sem se informar previamente e pedir ao gerente
ajuda para escolher um fundo pode ser a maneira mais fácil de investir seu
dinheiro. Será preciso muita sorte, no entanto, para que esse caminho leve a uma
rentabilidade espetacular. Abaixo especialistas em finanças pessoais ouvidos
pelo Portal EXAME explicam quais são os dez cuidados necessários para contratar
um fundo rentável e adequado a seu perfil:
1 - Rentabilidade passada não garante rentabilidade futura:
Quando precisam decidir onde vão investir dinheiro, em geral as pessoas pedem
conselhos ao gerente do banco. Normalmente a pergunta apresentada é quanto "está
rendendo" determinado fundo - e não quanto ele rendeu no passado. O gerente
então saca o folheto que mostra a rentabilidade dos produtos no último mês ou no
último ano e a pessoa imediatamente escolhe o que deu melhor retorno. Quem
entende de investimentos pessoais, no entanto, alerta que essa é a forma
incorreta de escolher fundos. "Muitos produtos de investimento dizem em seus
prospectos que a rentabilidade passada não garante lucros no futuro, mas as
pessoas insistem em ignorar esse fato", diz Mauro Calil, especialista em
finanças pessoais. A melhor forma de escolher um investimento é ler bastante e
pedir conselhos a várias pessoas com experiência no assunto, ensina Gustavo
Cerbasi, o especialista em finanças pessoais que mais vende livros no Brasil. O
fato de diversos analistas indicarem determinado investimento não é garantia de
que ele vai mesmo apresentar o melhor retorno no futuro. No entanto, Cerbasi diz
que as pessoas bem-informadas têm mais chances de evitar erros e aproveitar as
boas oportunidades.
2 - Faça o teste do perfil do investidor: Descobrir se você
é conservador, moderado ou agressivo é muito importante, segundo o professor
Márcio Rodrigues, da investeducar. Uma pessoa que vai perder noites de sono se o
patrimônio de seu fundo de ações encolher no curto prazo deve se manter longe da
bolsa e concentrar sua carteira em ativos de baixo risco. Já aqueles que têm
sangue frio podem aplicar uma parcela maior do patrimônio em investimentos de
alta volatilidade. O Portal EXAME oferece o teste do perfil do investidor (clique
aqui e faça). Os bancos também disponibilizam esse tipo de
ferramenta em seus sites. No entanto, quando todas as perguntas são respondidas,
os testes dos bancos já sugerem uma carteira detalhada de investimentos aos
clientes - o que é visto com alguma desconfiança no mercado. "Eu não conheço
ninguém que segue à risca o que é recomendado nesses testes. As pessoas não se
enxergam como carteiras de investimentos", diz o professor William Eid Junior,
do Centro de Estudos em Finanças da FGV. Ele recomenda que as pessoas façam um
planejamento financeiro mais bem-elaborado e peçam conselhos a especialistas
antes de definir como será montada sua carteira. "Algumas perguntas básicas a
serem respondidas é qual é o tranco que o investidor aguenta, quanto tempo o
dinheiro poderá ficar investido e qual é o objetivo do investimento", diz
Ricardo Nardini, responsável pelo site "Como Investir", da Anbima, a entidade
que representa os bancos de investimento. Alguém que está poupando para fazer
uma viagem nas próximas férias ou para comprar um apartamento daqui a três meses
precisa optar pelo investimento de curto prazo mais vantajoso. Já alguém bem
jovem que começa a poupar dinheiro para sua aposentadoria pode aceitar um pouco
de risco no mercado de ações porque haverá tempo para recuperar eventuais
perdas.
3 - Não procure boas opções de fundos apenas nos bancos: É
muito comum que o gerente do banco tenha uma meta para a venda de algum produto
financeiro que precisa ser batida para que ele ganhe uma comissão. Títulos de
capitalização, CDBs e fundos de previdência estão entre as opções de
investimentos que mais costumam ser "empurradas" nas agências. Desconfie, faça
perguntas e teste o conhecimento do bancário sobre o assunto sempre que um
produto lhe for oferecido. Especialistas também recomendam que o investidor
busque opções de investimento fora da agência bancária. Em geral, gestoras de
recursos independentes e corretoras estão mais preparadas que os bancos de
varejo para explicar o funcionamento dos produtos de investimento e dar
conselhos para a montagem de uma carteira vencedora. Saiba também que os
melhores gestores de fundos deixam seus cargos em bancos após alguns anos de
trabalho e abrem casas próprias de administração de recursos em busca de uma
remuneração maior. O problema é que muitas dessas gestoras só aceitam investir
dinheiro de quem possui milhões de reais. Segundo o professor Mauro Calil, uma
forma de driblar essas restrições a investimentos iniciais muito altos é por
meio dos distribuidores de cotas de fundos. Algumas corretoras cumprem esse
papel e oferecem aos clientes cotas de alguns fundos com ótima reputação no
mercado e tíquete mínimo acessível.
4 - Fuja dos fundos com taxas altas: Há fundos no Brasil que
são completamente inviáveis devido às comissões pagas a seus gestores. Nas
últimas décadas, os brasileiros se acostumaram a pagar taxas bem acima da média
internacional porque os retornos oferecidos pelas aplicações financeiras no país
também eram muito altos. Com a queda dos juros e a alta da bolsa, entretanto, é
natural que a remuneração dos fundos brasileiros se aproxime dos retornos médios
oferecidos nos países desenvolvidos. No caso dos fundos de renda fixa,
especialistas recomendam contratar apenas aqueles que cobrem taxas de
administração de até 1% ao ano. Como herança dos tempos dos juros altos, ainda
existem aplicações com taxas de até 5%. Nesses casos, é bem provável que o
gestor fique com uma parte do lucro maior do que a do próprio dono do dinheiro.
Então é recomendável trocar de fundo mesmo que seja necessário pagar mais
Imposto de Renda - no Brasil, a alíquota do IR vai caindo à medida que o tempo
de aplicação aumenta. Especialistas também afirmam que fundos que exigem mais
habilidade e dedicação do gestor podem cobrar taxas maiores. No caso de fundos
multimercados, a praxe do mercado é cobrar 2% ao ano de taxa de administração
mais uma taxa de performance equivalente a 20% do que o fundo superar sua meta
estabelecida em prospecto (benchmark). Já os fundos de ações costumam cobrar o
mesmo que os multimercados ou então taxas fixas de até 3% - incluindo
performance e administração. Só concorde em pagar mais do que isso se o gestor
tiver um histórico de entregar rentabilidades muito acima da média do mercado.
Uma exceção é para os fundos com gestão passiva, que seguem um índice de ações.
Nesses casos, o trabalho do gestor será bem menor. Então o recomendável é pagar
até 1% de taxa de administração. (clique
aqui e saiba mais sobre as taxas dos fundos)
5 - Comece com passos pequenos: O conselho vale tanto para
quem está começando a aplicar agora quanto para quem quer aumentar a parcela de
investimentos de maior risco em sua carteira. Para os iniciantes, é importante
lembrar que a educação financeira é um processo de longa maturação. Vale a pena
pedir conselhos a especialistas e amigos que entendem mais do assunto, assistir
a programas de TV sobre economia e finanças pessoais, acessar sites
especializados, ler jornais e revistas e se manter informado sobre o que
acontece. Enquanto isso, aplique dinheiro aos poucos nos fundos de investimento
que lhe parecerem mais interessantes naquele momento. A mesma dica vale para
quem quer investir mais em renda variável. "Não é porque a bolsa está subindo
forte em determinado momento que essa será a única oportunidade de ganhar
dinheiro com ações", afirma o professor Márcio Rodrigues. "De tempos em tempos
surgirão momentos favoráveis para a bolsa". Logo, a migração de recursos dos
investimentos conservadores para os arrojados deve ser lenta. "Pegue o dinheiro
que está na poupança ou na renda fixa e coloque um pouco de cada vez em um fundo
multimercado, por exemplo. À medida que as vantagens e desvantagens do produto
forem entendidas, o processo de migração poderá avançar", diz Rodrigues.
6 - Não pulverize demais o capital: Pode parecer um
contrassenso, mas não é muito inteligente o investidor dividir seu dinheiro
entre vários fundos, principalmente quando o volume de recursos é pequeno, diz
Carla dos Santos, da CDS Soluções Financeiras. Em geral, os fundos que exigem
uma aplicação inicial mínima de 1.000 reais cobram taxas maiores do que outros
bem parecidos destinados a investidores dispostos a colocar a partir de 50.000
reais. Segundo Gustavo Cerbasi, basicamente o mercado trabalha com três faixas
de taxas: a mais alta para aplicações de 1.000 a 5.000 reais, uma intermediária
para entre 5.000 e 25.000 reais e outra bem mais convidativa para o investimento
de 25.000 a 100.000 reais. "Espalhar a pouca poupança em cinco ou seis produtos
é um erro", diz ele. "Esse investidor deveria concentrar seu dinheiro em um
único fundo multimercado que tenha uma estratégia completa a um custo
interessante."
7 - Cuidado com os fundos com poucos cotistas: Até a crise
de 2008 as pessoas acreditavam que ter o dinheiro em um grande banco era sinal
de segurança. Com a quebra de bancos como o Lehman Brothers e as dificuldades
financeiras de megainstituições como UBS, Merrill Lynch, Goldman Sachs,
Citigroup e Morgan Stanley, essa visão começou a mudar. O ideal agora é colocar
seu dinheiro em casas de boa reputação, independente de seu tamanho. Ao investir
em um fundo pequeno, no entanto, o investidor deve tomar o cuidado de verificar
se as cotas não estão excessivamente concentradas em um único investidor. Em
caso positivo, se ele sair, o gestor será obrigado a desmontar boa parte de suas
posições rapidamente e provavelmente haverá perdas para os demais cotistas. Nos
fundos de pequeno porte, também é necessário checar a reputação do gestor e qual
a instituição responsável pela auditoria das contas. Um dos maiores
especialistas em fundos do Brasil, o professor William Eid Jr., da FGV,
desenvolveu um método próprio para avaliar as melhores aplicações. A cada
semestre, ele verifica quais fundos de diversas categorias tiveram os melhores
resultados e atribui a eles medalhas de ouro (para os dez primeiros), prata
(para os dez que vêm em seguida) e bronze (para os próximos dez). O próximo
passo é verificar, ao longo de vários semestres, quais costumam ficar entre os
melhores regularmente. É nesses que ele vai investir. Em ações, Eid recomenda os
fundos da Tempo Capital e da Geração Futuro. Já os fundos da Polo Capital foram
recomendados na categoria dos multimercados. (Clique
aqui e veja o ranking EXAME dos melhores e piores fundos de
investimento).
8 - Se você tiver dinheiro, contrate uma assessoria financeira
personalizada: Em geral, os bancos de varejo não estão preparados para
lhe dar um aconselhamento financeiro completo. O gerente do banco costuma ser um
profissional atencioso e simpático que pode ajudar na administração de sua conta
corrente, mas não tem o devido preparo para dar conselhos de investimento. Para
o segmento de alta renda, os grandes bancos já começam a oferecer um serviço de
maior qualidade. É possível agendar uma conversa com um gerente especializado em
investimentos ou participar de reuniões com funcionários capazes de explicar em
detalhes como funciona cada produto do banco. A orientação fica ainda melhor
para os clientes do private banking, que costuma atender apenas quem tem mais de
1 milhão de reais depositados na instituição. Para quem ainda não chegou lá, uma
opção é contratar um planejador financeiro pessoal para organizar suas finanças.
A Anbima fomenta um instituto de planejadores financeiros chamado IBCPF que
reúne centenas de profissionais certificados e habilitados a prestar esse tipo
de serviço com competência.
9 - Leia o prospecto do fundo antes de investir: O prospecto
é um documento de divulgação obrigatória. Nele, o gestor deverá informar o
objetivo do fundo, em que ativos vai investir, qual será a meta de retorno
buscada (índice de referência ou benchmark), que operações não poderão ser
feitas, quais são os riscos do produto, que taxas deverão ser pagas, quem será o
gestor responsável por escolher as aplicações, que instituição responde pelo
fundo aos órgãos reguladores, que empresa fará a auditoria nas contas, se
existem investimentos em derivativos e quais são os prazos para o resgate dos
recursos, entre outras informações. Nem sempre o investidor vai entender todas
essas informações ao ler o prospecto. Tirar as dúvidas com a instituição
responsável pelo fundo é importante tanto para tomar uma decisão de investimento
mais acertada quanto para a evolução do processo de educação financeira do
cotista. Segundo a Anbima, também é importante verificar se o gestor está
cumprindo o prometido no prospecto periodicamente. Uma das formas de fazer isso
é comparar os resultados obtidos pelo fundo com seu índice de referência. Se
houver uma discrepância muito grande, é possível que o gestor não esteja
cumprindo a política de investimento proposta.
10 - Não entre em pânico: Independente do que esteja
acontecendo no mercado, é importante manter a calma. Saiba antes de entrar em um
fundo que ativos de renda variável apresentam grande volatilidade e que as
perdas de curto prazo podem ser severas. Momentos de nervosismo no mercado
costumam gerar boas oportunidades de compra desses papéis - e não o contrário.
Durante a crise de 2008, muita gente resgatou todo o dinheiro que tinha em
fundos de ações e assumiu prejuízos representativos. Já a maioria das pessoas
que tiveram sangue frio e ficaram nos fundos onde estavam recuperaram suas
perdas cerca de um ano depois. E aqueles que entraram na bolsa no auge da crise
e mantiveram-se confiantes na recuperação provavelmente passaram por um de seus
melhores períodos de investimento da vida. Também não é necessário entrar em
pânico se houver boatos em relação à saúde de alguma instituição financeira onde
você investe em fundos. A legislação brasileira estabelece que o dinheiro de um
fundo fica em uma conta separada dos demais recursos do banco e pode ser
transferido de instituição em caso de quebra. Por isso, os cotistas não são
prejudicados - ao contrário dos correntistas que possuem mais de 60.000 reais em
conta ou qualquer volume aplicado em CDBs e títulos do próprio banco. Em 2004,
quando Banco Santos sofreu intervenção do Banco Central, por exemplo, os
investidores só tiveram perdas porque os fundos do banco também investiam nos
CDBs da própria instituição. A legislação atual, no entanto, limita a 20% do
capital de um fundo o montante que pode ser investido em papéis emitidos pela
mesma instituição financeira. Regras como essas tornam o Brasil um dos lugares
mais seguros no mundo para o investimento em fundos.