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Investimentos / Fundos - Dez cuidados ao investir em fundos 

Data: 27/04/2010

 
 
Simplesmente perguntar ao gerente do banco em que produto investir pode ser um grande erro; veja o que dizem os especialistas

Gustavo Cerbasi: Não pulverize demais seu capital entre vários fundos

Entrar em uma agência bancária sem se informar previamente e pedir ao gerente ajuda para escolher um fundo pode ser a maneira mais fácil de investir seu dinheiro. Será preciso muita sorte, no entanto, para que esse caminho leve a uma rentabilidade espetacular. Abaixo especialistas em finanças pessoais ouvidos pelo Portal EXAME explicam quais são os dez cuidados necessários para contratar um fundo rentável e adequado a seu perfil:

1 - Rentabilidade passada não garante rentabilidade futura: Quando precisam decidir onde vão investir dinheiro, em geral as pessoas pedem conselhos ao gerente do banco. Normalmente a pergunta apresentada é quanto "está rendendo" determinado fundo - e não quanto ele rendeu no passado. O gerente então saca o folheto que mostra a rentabilidade dos produtos no último mês ou no último ano e a pessoa imediatamente escolhe o que deu melhor retorno. Quem entende de investimentos pessoais, no entanto, alerta que essa é a forma incorreta de escolher fundos. "Muitos produtos de investimento dizem em seus prospectos que a rentabilidade passada não garante lucros no futuro, mas as pessoas insistem em ignorar esse fato", diz Mauro Calil, especialista em finanças pessoais. A melhor forma de escolher um investimento é ler bastante e pedir conselhos a várias pessoas com experiência no assunto, ensina Gustavo Cerbasi, o especialista em finanças pessoais que mais vende livros no Brasil. O fato de diversos analistas indicarem determinado investimento não é garantia de que ele vai mesmo apresentar o melhor retorno no futuro. No entanto, Cerbasi diz que as pessoas bem-informadas têm mais chances de evitar erros e aproveitar as boas oportunidades.

2 - Faça o teste do perfil do investidor: Descobrir se você é conservador, moderado ou agressivo é muito importante, segundo o professor Márcio Rodrigues, da investeducar. Uma pessoa que vai perder noites de sono se o patrimônio de seu fundo de ações encolher no curto prazo deve se manter longe da bolsa e concentrar sua carteira em ativos de baixo risco. Já aqueles que têm sangue frio podem aplicar uma parcela maior do patrimônio em investimentos de alta volatilidade. O Portal EXAME oferece o teste do perfil do investidor (clique aqui e faça). Os bancos também disponibilizam esse tipo de ferramenta em seus sites. No entanto, quando todas as perguntas são respondidas, os testes dos bancos já sugerem uma carteira detalhada de investimentos aos clientes - o que é visto com alguma desconfiança no mercado. "Eu não conheço ninguém que segue à risca o que é recomendado nesses testes. As pessoas não se enxergam como carteiras de investimentos", diz o professor William Eid Junior, do Centro de Estudos em Finanças da FGV. Ele recomenda que as pessoas façam um planejamento financeiro mais bem-elaborado e peçam conselhos a especialistas antes de definir como será montada sua carteira. "Algumas perguntas básicas a serem respondidas é qual é o tranco que o investidor aguenta, quanto tempo o dinheiro poderá ficar investido e qual é o objetivo do investimento", diz Ricardo Nardini, responsável pelo site "Como Investir", da Anbima, a entidade que representa os bancos de investimento. Alguém que está poupando para fazer uma viagem nas próximas férias ou para comprar um apartamento daqui a três meses precisa optar pelo investimento de curto prazo mais vantajoso. Já alguém bem jovem que começa a poupar dinheiro para sua aposentadoria pode aceitar um pouco de risco no mercado de ações porque haverá tempo para recuperar eventuais perdas.

3 - Não procure boas opções de fundos apenas nos bancos: É muito comum que o gerente do banco tenha uma meta para a venda de algum produto financeiro que precisa ser batida para que ele ganhe uma comissão. Títulos de capitalização, CDBs e fundos de previdência estão entre as opções de investimentos que mais costumam ser "empurradas" nas agências. Desconfie, faça perguntas e teste o conhecimento do bancário sobre o assunto sempre que um produto lhe for oferecido. Especialistas também recomendam que o investidor busque opções de investimento fora da agência bancária. Em geral, gestoras de recursos independentes e corretoras estão mais preparadas que os bancos de varejo para explicar o funcionamento dos produtos de investimento e dar conselhos para a montagem de uma carteira vencedora. Saiba também que os melhores gestores de fundos deixam seus cargos em bancos após alguns anos de trabalho e abrem casas próprias de administração de recursos em busca de uma remuneração maior. O problema é que muitas dessas gestoras só aceitam investir dinheiro de quem possui milhões de reais. Segundo o professor Mauro Calil, uma forma de driblar essas restrições a investimentos iniciais muito altos é por meio dos distribuidores de cotas de fundos. Algumas corretoras cumprem esse papel e oferecem aos clientes cotas de alguns fundos com ótima reputação no mercado e tíquete mínimo acessível.

4 - Fuja dos fundos com taxas altas: Há fundos no Brasil que são completamente inviáveis devido às comissões pagas a seus gestores. Nas últimas décadas, os brasileiros se acostumaram a pagar taxas bem acima da média internacional porque os retornos oferecidos pelas aplicações financeiras no país também eram muito altos. Com a queda dos juros e a alta da bolsa, entretanto, é natural que a remuneração dos fundos brasileiros se aproxime dos retornos médios oferecidos nos países desenvolvidos. No caso dos fundos de renda fixa, especialistas recomendam contratar apenas aqueles que cobrem taxas de administração de até 1% ao ano. Como herança dos tempos dos juros altos, ainda existem aplicações com taxas de até 5%. Nesses casos, é bem provável que o gestor fique com uma parte do lucro maior do que a do próprio dono do dinheiro. Então é recomendável trocar de fundo mesmo que seja necessário pagar mais Imposto de Renda - no Brasil, a alíquota do IR vai caindo à medida que o tempo de aplicação aumenta. Especialistas também afirmam que fundos que exigem mais habilidade e dedicação do gestor podem cobrar taxas maiores. No caso de fundos multimercados, a praxe do mercado é cobrar 2% ao ano de taxa de administração mais uma taxa de performance equivalente a 20% do que o fundo superar sua meta estabelecida em prospecto (benchmark). Já os fundos de ações costumam cobrar o mesmo que os multimercados ou então taxas fixas de até 3% - incluindo performance e administração. Só concorde em pagar mais do que isso se o gestor tiver um histórico de entregar rentabilidades muito acima da média do mercado. Uma exceção é para os fundos com gestão passiva, que seguem um índice de ações. Nesses casos, o trabalho do gestor será bem menor. Então o recomendável é pagar até 1% de taxa de administração. (clique aqui e saiba mais sobre as taxas dos fundos)

5 - Comece com passos pequenos: O conselho vale tanto para quem está começando a aplicar agora quanto para quem quer aumentar a parcela de investimentos de maior risco em sua carteira. Para os iniciantes, é importante lembrar que a educação financeira é um processo de longa maturação. Vale a pena pedir conselhos a especialistas e amigos que entendem mais do assunto, assistir a programas de TV sobre economia e finanças pessoais, acessar sites especializados, ler jornais e revistas e se manter informado sobre o que acontece. Enquanto isso, aplique dinheiro aos poucos nos fundos de investimento que lhe parecerem mais interessantes naquele momento. A mesma dica vale para quem quer investir mais em renda variável. "Não é porque a bolsa está subindo forte em determinado momento que essa será a única oportunidade de ganhar dinheiro com ações", afirma o professor Márcio Rodrigues. "De tempos em tempos surgirão momentos favoráveis para a bolsa". Logo, a migração de recursos dos investimentos conservadores para os arrojados deve ser lenta. "Pegue o dinheiro que está na poupança ou na renda fixa e coloque um pouco de cada vez em um fundo multimercado, por exemplo. À medida que as vantagens e desvantagens do produto forem entendidas, o processo de migração poderá avançar", diz Rodrigues.

6 - Não pulverize demais o capital: Pode parecer um contrassenso, mas não é muito inteligente o investidor dividir seu dinheiro entre vários fundos, principalmente quando o volume de recursos é pequeno, diz Carla dos Santos, da CDS Soluções Financeiras. Em geral, os fundos que exigem uma aplicação inicial mínima de 1.000 reais cobram taxas maiores do que outros bem parecidos destinados a investidores dispostos a colocar a partir de 50.000 reais. Segundo Gustavo Cerbasi, basicamente o mercado trabalha com três faixas de taxas: a mais alta para aplicações de 1.000 a 5.000 reais, uma intermediária para entre 5.000 e 25.000 reais e outra bem mais convidativa para o investimento de 25.000 a 100.000 reais. "Espalhar a pouca poupança em cinco ou seis produtos é um erro", diz ele. "Esse investidor deveria concentrar seu dinheiro em um único fundo multimercado que tenha uma estratégia completa a um custo interessante."

7 - Cuidado com os fundos com poucos cotistas: Até a crise de 2008 as pessoas acreditavam que ter o dinheiro em um grande banco era sinal de segurança. Com a quebra de bancos como o Lehman Brothers e as dificuldades financeiras de megainstituições como UBS, Merrill Lynch, Goldman Sachs, Citigroup e Morgan Stanley, essa visão começou a mudar. O ideal agora é colocar seu dinheiro em casas de boa reputação, independente de seu tamanho. Ao investir em um fundo pequeno, no entanto, o investidor deve tomar o cuidado de verificar se as cotas não estão excessivamente concentradas em um único investidor. Em caso positivo, se ele sair, o gestor será obrigado a desmontar boa parte de suas posições rapidamente e provavelmente haverá perdas para os demais cotistas. Nos fundos de pequeno porte, também é necessário checar a reputação do gestor e qual a instituição responsável pela auditoria das contas. Um dos maiores especialistas em fundos do Brasil, o professor William Eid Jr., da FGV, desenvolveu um método próprio para avaliar as melhores aplicações. A cada semestre, ele verifica quais fundos de diversas categorias tiveram os melhores resultados e atribui a eles medalhas de ouro (para os dez primeiros), prata (para os dez que vêm em seguida) e bronze (para os próximos dez). O próximo passo é verificar, ao longo de vários semestres, quais costumam ficar entre os melhores regularmente. É nesses que ele vai investir. Em ações, Eid recomenda os fundos da Tempo Capital e da Geração Futuro. Já os fundos da Polo Capital foram recomendados na categoria dos multimercados. (Clique aqui e veja o ranking EXAME dos melhores e piores fundos de investimento).

8 - Se você tiver dinheiro, contrate uma assessoria financeira personalizada: Em geral, os bancos de varejo não estão preparados para lhe dar um aconselhamento financeiro completo. O gerente do banco costuma ser um profissional atencioso e simpático que pode ajudar na administração de sua conta corrente, mas não tem o devido preparo para dar conselhos de investimento. Para o segmento de alta renda, os grandes bancos já começam a oferecer um serviço de maior qualidade. É possível agendar uma conversa com um gerente especializado em investimentos ou participar de reuniões com funcionários capazes de explicar em detalhes como funciona cada produto do banco. A orientação fica ainda melhor para os clientes do private banking, que costuma atender apenas quem tem mais de 1 milhão de reais depositados na instituição. Para quem ainda não chegou lá, uma opção é contratar um planejador financeiro pessoal para organizar suas finanças. A Anbima fomenta um instituto de planejadores financeiros chamado IBCPF que reúne centenas de profissionais certificados e habilitados a prestar esse tipo de serviço com competência.

9 - Leia o prospecto do fundo antes de investir: O prospecto é um documento de divulgação obrigatória. Nele, o gestor deverá informar o objetivo do fundo, em que ativos vai investir, qual será a meta de retorno buscada (índice de referência ou benchmark), que operações não poderão ser feitas, quais são os riscos do produto, que taxas deverão ser pagas, quem será o gestor responsável por escolher as aplicações, que instituição responde pelo fundo aos órgãos reguladores, que empresa fará a auditoria nas contas, se existem investimentos em derivativos e quais são os prazos para o resgate dos recursos, entre outras informações. Nem sempre o investidor vai entender todas essas informações ao ler o prospecto. Tirar as dúvidas com a instituição responsável pelo fundo é importante tanto para tomar uma decisão de investimento mais acertada quanto para a evolução do processo de educação financeira do cotista. Segundo a Anbima, também é importante verificar se o gestor está cumprindo o prometido no prospecto periodicamente. Uma das formas de fazer isso é comparar os resultados obtidos pelo fundo com seu índice de referência. Se houver uma discrepância muito grande, é possível que o gestor não esteja cumprindo a política de investimento proposta.

10 - Não entre em pânico: Independente do que esteja acontecendo no mercado, é importante manter a calma. Saiba antes de entrar em um fundo que ativos de renda variável apresentam grande volatilidade e que as perdas de curto prazo podem ser severas. Momentos de nervosismo no mercado costumam gerar boas oportunidades de compra desses papéis - e não o contrário. Durante a crise de 2008, muita gente resgatou todo o dinheiro que tinha em fundos de ações e assumiu prejuízos representativos. Já a maioria das pessoas que tiveram sangue frio e ficaram nos fundos onde estavam recuperaram suas perdas cerca de um ano depois. E aqueles que entraram na bolsa no auge da crise e mantiveram-se confiantes na recuperação provavelmente passaram por um de seus melhores períodos de investimento da vida. Também não é necessário entrar em pânico se houver boatos em relação à saúde de alguma instituição financeira onde você investe em fundos. A legislação brasileira estabelece que o dinheiro de um fundo fica em uma conta separada dos demais recursos do banco e pode ser transferido de instituição em caso de quebra. Por isso, os cotistas não são prejudicados - ao contrário dos correntistas que possuem mais de 60.000 reais em conta ou qualquer volume aplicado em CDBs e títulos do próprio banco. Em 2004, quando Banco Santos sofreu intervenção do Banco Central, por exemplo, os investidores só tiveram perdas porque os fundos do banco também investiam nos CDBs da própria instituição. A legislação atual, no entanto, limita a 20% do capital de um fundo o montante que pode ser investido em papéis emitidos pela mesma instituição financeira. Regras como essas tornam o Brasil um dos lugares mais seguros no mundo para o investimento em fundos.



 
Referência: Portal Exame
Autor: João Sandrini
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