Carros fabricados no exterior por montadoras sem tradição nem rede ampla de
assistência técnica no Brasil podem ter consertos demorados e depreciação na
revenda
A SUV da marca sul-coreana é um dos importados mais vendidos no país.Enquanto
as montadoras nacionais lamentam o fim do IPI reduzido, a venda de veículos
importados disparou em 2010. Nos quatro primeiros meses do ano, a
comercialização de carros fabricados em outros países cresceu 160% e atingiu
26.000 unidades. Tal crescimento é atribuído a dois fatores: taxas de juros
razoáveis e câmbio favorável para importações. Mas se você também está tentado a
andar pelas ruas de carro importando, saiba que é preciso tomar alguns cuidados.
A primeira providência é checar se a montadora oferece uma rede de
assistência e fornecimento de peças abrangente ou se um problema mecânico em
meio a uma viagem pode se transformar em um pesadelo. "Um carro cuja rede de
assistência ou revenda existe apenas no estado de São Paulo poderá gerar
dificuldades no acesso ao suporte técnico do veículo", alerta Paulo Gorbassa,
professor do curso de pós-graduação da FEI.
Em geral, as montadoras que acabam de chegar ao país apresentam desvantagens,
segundo José Fernando Penteado, do comitê de veículos leves da associação de
engenheiros SAE Brasil. Além de o consumidor ainda não possuir referências sobre
a qualidade de um veículo, a rede de assistência técnica costuma ser menos
madura. Tradicionais importadores de veículos de qualidade como a coreana
Hyundai e as japonesas Toyota e Honda levam vantagem sobre quem começou a
investir no país só recentemente, como a chinesa Chery, a indiana Mahindra e a
uruguaia Effa Motors.
A procedência do automóvel também indica a facilidade ou dificuldade
logística da distribuição de peças. "Existem importados que vêm do México ou da
Argentina. Nesses casos, a manutenção do carro pode ser até mais barata que a de
um veículo nacional", explica Antonio Carlos Fiola, membro do conselho-diretor
do Instituto de Qualidade Automotiva (IQA). As diferenças entre as moedas destes
países e o real podem tornar atraente o uso de peças importadas.
Outro fator que pode indicar se a montadora é, de fato, acessível, é analisar
o volume de vendas do carro em questão. "Um veículo de alta comercialização
geralmente conta com uma rede de assistência técnica e reposição de peças mais
eficaz. Nestes casos, a manutenção do veículo se equipara a qualquer carro
nacional", explica o Garbossa.
Carro querido no mercado, revenda garantida
Ranking dos importados mais vendidos no Brasil:
Janeiro/março 2010:
MARCA |
MODELO |
TOTAL |
KIA MOTORS |
SPORTAGE |
3.401 |
KIA MOTORS |
CERATO |
3.199 |
KIA MOTORS |
SOUL |
1784 |
KIA MOTORS |
BONGO |
1696 |
KIA MOTORS |
PICANTO |
1404 |
SUZUKI |
GRANDVITARA |
1012 |
BMW |
SERIE 3 |
769 |
BMW |
SERIE 1 |
759 |
EFFA MOTORS |
HAFEI PICKUP |
679 |
VOLVO |
XC 60 |
671 |
CHERY |
TIGGO |
635 |
2009:
MARCA |
MODELO |
TOTAL |
KIA MOTORS |
SPORTAGE |
8222 |
KIA MOTORS |
BONGO |
4259 |
KIA MOTORS |
PICANTO |
3365 |
KIA MOTORS |
CERATO |
3223 |
SUZUKI |
GRANDVITARA |
2656 |
KIA MOTORS |
SOUL |
2648 |
BMW |
SERIE 1 |
1859 |
DODGE |
JOURNEY |
1350 |
KIA MOTORS |
SORRENTO |
1236 |
KIA MOTORS |
CARENS |
1233 |
CHRYSLER |
PT CRUISER |
1133 |
Fonte: ABEIVA |
A demanda no mercado também costuma sinalizar outro fator importante na
decisão de compra de um veículo importado: a depreciação. "Se o modelo não tem
boa aceitação no mercado, a hora de passá-lo para frente pode significar uma boa
perda de dinheiro - ainda mais se o carro estiver com as garantias vencidas. Seu
preço terá que ser muito abaixo da tabela", explica João Alves, coordenador de
veículos da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Portanto, sinal amarelo para os importados usados que já estão fora da
garantia: "Neste caso é melhor procurar seu mecânico de confiança. O carro pode
estar com um preço atrativo, mas o conserto pode sair muito caro", diz Fiola, da
IQA.
Para quem procura a exclusividade dos carros esportivos ou de luxo, a
dificuldade na reposição das peças pode ser uma dor de cabeça. "A revendedora
traz para o Brasil a quantidade de peças necessárias para o número de veículos
registrados rodando no país. Aí entra na conta o frete aéreo, a produção da
peça, e etc.", explica Koichiro Matsuo, assessor da Associação Brasileira das
Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva). A falta de
competitividade para esses carros no mercado interno brasileiro faz com que
tanto as peças quanto a manutenção acompanhem o padrão do automóvel.