De acordo com Peter Senge, autor do best seller A Quinta Disciplina, "as
pessoas são treinadas para exercer a lealdade ao cargo que ocupam, tanto que
chegam a confundi-lo com a própria identidade". Quando alguém pergunta a uma
pessoa o que ela faz para viver, a maioria descreve as tarefas do seu dia a dia
e não o propósito maior da empresa onde trabalha. Em síntese, os profissionais
não estão preocupados com a visão, a missão e os valores da organização, mas com
a manutenção do cargo e também do sobrenome da empresa mediante a pressão que os
chefes exercem sobre eles na busca pelos resultados.
De fato, a maioria dos profissionais se vê dentro de um sistema sobre o qual
tem pouca ou nenhuma influência, aquilo que Gareth Morgan, pesquisador
canadense, atribuiu como metáforas em seu clássico Imagens da Organização. Para
Morgan, "as organizações são em essência realidades socialmente construídas que
estão muito mais nas cabeças e mentes dos seus membros do que em conjuntos
concretos de regras e relacionamentos". Portanto, salvo raras exceções, as
pessoas associam o nome, o cargo e a própria carga de trabalho para criar uma
metáfora pela qual são capazes de lutar ou amaldiçoar pelo resto da vida, coisas
do tipo "a empresa é uma mãe para mim", "ganho pouco, trabalho pouco" ou
abomináveis como "meu nome é trabalho".
Quando um profissional concentra-se exclusivamente no cargo que ocupa e faz
do nome da empresa o seu sobrenome, tanto faz se os resultados são bons ou
ruins. Para ele, se os resultados são bons, ninguém reconhece o seu desempenho;
se são ruins, torna-se difícil descobrir os motivos do fracasso e resta, então,
presumir que alguém, exceto ele, cometeu alguma besteira.
A maioria das empresas apresenta enormes indícios de problemas, mas estes são
ignorados, geralmente pelos responsáveis principais, donos, diretores e
gerentes, até que uma consequência maior possa obrigá-los a assumir o comando do
navio, quase sempre quando não se pode mais evitar o naufrágio.
Nas minhas andanças pelas empresas fico estarrecido quando o assunto é cargos
e salários. Qualquer tentativa de ajuste do cargo ou da função, dentro de uma
nomenclatura mais adequada ao momento em que vivemos, gera frustrações e
descontentamento. Imagine que cargos e funções do tipo "pegador de papel", isso
mesmo, "calandrista", "mexedor de massa" ou "aparador de bobinas" ainda são
cultuados em carteiras profissionais. E ai daquele que se atreve a mudar. É
motivo para reclamação no sindicato e coisas do gênero. Imagine, então, quando o
ajuste precisa ser feito em nível de diretoria ou gerência. Não é fácil promover
um "mergulho" no cargo de diretor para gerente ou coordenador. Orgulho e ego
unem-se para combater uma heresia dessas e o resultado, quase sempre, é a
demissão pura e simples.
Queiramos ou não, os cargos terminam, os chefes são transitórios, as
denominações mudam, os empregos tradicionais deixam de existir depois de alguns
anos e se estivermos agarrados ao nosso cartão de visitas, não haverá como
alegar surpresas no dia do juízo final corporativo. Por outro lado, se você
empenhar-se de corpo e alma em algo que lhe proporcione prazer, sentido de
realização e sentido de contribuição, conseguirá enxergar-se de maneira mais
valiosa e nunca ficará preso a cargos e crachás. Nesse sentido, ter consciência
absoluta das suas forças e fraquezas, habilidades e competências pessoais, é
fundamental para construir a sua própria identidade no mercado e vislumbrar um
novo cenário na sua trajetória profissional.
Lembre-se, quanto mais preso ao cargo você estiver, maior a dificuldade de
explorar novas possibilidades. Aproveite seus talentos, habilidades, virtudes e
competências para construir uma nova identidade. Seja o profissional que você
deseja ser, mas seja o melhor de todos. Isso é uma questão de posicionamento e
de confiança em si mesmo. Tente não fazer do emprego um trampolim para outro, ou
seja, "estou por aqui enquanto não acho nada melhor", pois, além de canalizar
toda energia em algo que não agrega valor, ainda vai denegrir sua imagem perante
o mercado. Se você tem emprego, mas não tem amor pela profissão, ainda tem um
longo caminho a percorrer.
Pense nisso e seja feliz!