Toda profissão tem um estilo gerencial próprio. Ela depende das necessidades
da profissão e de seus valores.
Muitos engenheiros, por exemplo, são perfeccionistas. Perfeccionismo é uma
necessidade, ou um valor que muitos engenheiros possuem. O trabalho tem que ser
bem feito, custe o que custar.
Por outro lado, advogados são detalhistas. São capazes de gastar horas em uma
cláusula de contrato que provavelmente nunca será necessária. O trabalho é
demorado, mas quando pronto o contrato cobrirá todos os detalhes e todas as
incertezas do futuro. É isto que define um contrato bem feito.
Ambas as profissões administram suas vidas sob estilos gerenciais diferentes,
definidos pelos seus valores e necessidades.
Por isto, todas as profissões entram em conflito com a profissão do
administrador.
Elas acham, incorretamente que o estilo gerencial do administrador é
conflitante ou então desnecessário.
Por isto, tantas profissões, empresários e governadores não valorizam o
administrador, porque não acham que nosso estilo administrativo seja superior,
muito pelo contrário, "vocês não entendem nada de engenharia e advocacia".
Pergunte a um engenheiro, advogado ou psicólogo qual é o estilo gerencial do
administrador, e eles provavelmente também usariam um único adjetivo.
Provavelmente nos definiriam de "imediatistas", preocupados com lucros de
curto prazo, como Paul Krugman e seus colegas não param de escrever no New York
Times.
Administradores, segundo a visão popular, querem tudo para "ontem", vivem
dizendo que "o ótimo é o inimigo do bom", que precisamos mais de "acabativa" e
não de iniciativa.
A maioria dos administradores, infelizmente, não consegue provar a sua
utilidade nem sabe explicar exatamente o que faz. Por isto, eles não ganham o
que merecem, por isto não são valorizados.
Muitos acham que administrar é liderar, executar, coordenar. Isto está até
escrito em inúmeros livros de Administração adotados pelas nossas Faculdades de
Administração. Uma tristeza!
Vou apresentar uma das funções básicas do administrador, e que define em
linhas gerais o seu estilo, e que surpreendentemente muitos administradores
sequer ouviram falar nas grandes escolas de Administração como FGV, Insper,
Ibmec e USP.
Basicamente, a função do administrador é não permitir que problemas se
acumulem.
Uma organização complexa, que é a empresa moderna, requer a cooperação de
milhares de pessoas, dentro e fora da empresa. E, esta cooperação gera inúmeros
problemas que se não forem solucionados a tempo afetarão todos os parceiros
envolvidos na empresa.
Não permitir que problemas se acumulem talvez seja a tarefa mais importante
para o bom andamento de toda família, empresa e nação.
Quando o mundo era gerido por açougueiros, padeiros e fábricas de alfinetes,
como observou na época Adam Smith, de fato não havia muitos problemas
"acumulados", e nem havia necessidade para se contratar administradores. Tudo
funcionava pela Mão Invisível do mercado, não pela "Mão Visível" do
administrador, como apontaria 200 anos depois seu livro com este mesmo título
Alfred Chandler.
Hoje, o mundo é bem mais complexo e rápido, razão pela demanda crescente de
profissionais em administração.
Toda empresa e nação precisa de um corpo de profissionais treinado e dedicado
a resolver os problemas de forma rápida.
Não somos imediatistas como muitos acreditam, nós simplesmente estamos
evitando que problemas se acumulem um atrás do outro, e nestes casos rapidez de
raciocínio e ação são essenciais.
Por isto, nós nos preocupamos tanto com acompanhamento, qualidade total,
processos, auditoria, recursos humanos, etc.
Infelizmente, não é assim que a maioria dos intelectuais brasileiros que
ocuparam tantos cargos de destaques neste pais pensam.
Toda a filosofia de ensino, pelo menos a partir do iluminismo e
cientificismo, é voltada para resolver problemas corretamente, até a segunda
casa decimal. Rapidez só no vestibular.
Todos os dados precisam ser precisos e rechecados. Todas as variáveis
precisam ser "controladas". O ser humano precisa estar "absolutamente certo", o
refrão do programa "O Céu é o Limite".
Quando se acusa o PSDB de ficar sempre em cima do muro, na realidade se
comete uma injustiça. Eles não evitam decidir ou tomar partido, na realidade
seus intelectuais são simplesmente mais demorados na tomada de decisão, como
todo intelectual.
Só que resolver problemas corretamente hoje em dia não é suficiente. Eles
precisam ser resolvidos rapidamente, algo que nossos formadores de opinião,
jornalistas e acadêmicos simplesmente não compreendem.
Temos que tomar decisões com os dados que temos, não com os dados que
gostaríamos de ter.
O Brasil é um país atrasado porque estamos eternamente acumulando problemas.
É tão óbvio esta constatação que espanta que nossa opinião pública, nossos
intelectuais e professores de história nunca perceberam esta simples verdade da
história brasileira.
Quando se diz que precisamos fazer a Reforma Política, a Reforma Tributária,
a Reforma Judiciária, o que queremos dizer é que deixamos tantos problemas se
acumularem nestas áreas que somente uma ampla reforma resolverá o problema.
Se tivéssemos resolvido os problemas na medida que surgiram, o Brasil teria
evoluído, teria caminhado para um sistema ótimo, em vez de termos que criar
revoluções e enormes reformas de tempos em tempos, que no fundo nos atrasam
ainda mais.
Temos problemas no judiciário, na previdência, na logística, na
infraestruturua, na educação, na economia, simplesmente porque não temos um
estilo gerencial que se preocupa com a rápida solução de problemas. E, problemas
que se acumulam crescem exponencialmente, não linearmente, como todo
administrador sabe por experiência.
Quatro entre cinco empresas quebram no Brasil, porque são geridas por
profissões que não percebem que problemas não podem se acumular. Aí, qualquer
crise ou evento fora do comum, as abate.
Nenhuma empresa quebra por uma única razão, nenhum avião cai por causa de um
único problema. Estas quatro empresas quebram a um custo de capital monstruoso
para o país, por falta de um estilo gerencial apropriado.
O Brasil não poupa o suficiente para crescer; e pior, torramos 80% desta
poupança em empresas que irão quebrar em quatro anos.
Eu não diria, e nunca disse, que o estilo gerencial do administrador é
superior ao do engenheiro, do advogado ou do economista.
Infelizmente, estas profissões se sentem ameaçadas pelos administradores, à
toa.
Não queremos comandar, gerir, tomar o lugar de ninguém.
Quero deixar claro para todo empresário, sociólogo, economista e político que
possa se sentir ameaçado, que o estilo do administrador não é superior.
Ele é simplesmente necessário.
Não podemos permitir que nossos problemas se acumulem simplesmente porque
cada profissão acha que seu estilo gerencial é superior.
Nós administradores aceitamos que engenheiros sejam perfeccionistas, que
advogados sejam detalhistas, que economistas queiram dados precisos, mas tudo
isto tem de ser adequado para não atrapalhar os outros dentro da empresa ou do
governo.
Não podemos ficar esperando enquanto os outros seguem seus estilos
individuais.
Engenheiros, advogados e economistas precisam entender que seus estilos
gerenciais são superiores e apropriados, quando se trabalha sozinho, mas quando
se trabalha em grupo é necessário conciliar.
Trabalhando em grupo, um simples atraso numa reunião atrapalha os outros,
imaginem um problema que não foi solucionado por anos a fio.
Quando vejo acusarem administradores e empresários de "imediatistas", que
pensamos somente no curto prazo, percebo que estas pessoas nada entendem das
funções do administrador, de crescimento, de justiça social, de democracia e de
um mundo feliz cheio de realizações, porque tudo é feito na velocidade
necessária.
Se você está cansado de um país estagnado, que cresce aquém de suas
possibilidades, que acumula pobreza, corrupção, injustiça e inúmeros problemas,
converse mais com um administrador. Ele o ajudará a decidir e implantar suas
ideias muito mais rapidamente do que você vem fazendo até hoje.