Você sabia que volta e meia as imitações bem feitas superam as invenções?
A empresa de restaurantes White Castle foi à primeira organizar o segmento de
fast foods, mas um tempo depois, a rede MCDonald's copiou a idéia, melhorou o
serviço e se transformou em uma das principais multinacionais do mundo. O Dinner
Club, por exemplo, foi o primeiro a disponibilizar cartões de créditos, mas foi
superada pelos "imitadores" do segmento Visa, Mastercard e American Express.
Até o próprio Ipod da Apple é uma versão melhorada do aparelho Saehan Mpman,
que não fez muito sucesso no mercado, mas trouxe o formato de mais capacidade
nos MP3 já existentes.
Em todos os setores, nota-se a existência cada vez maior no número de
empresas que oferecem serviços ou produtos semelhantes ao consumidor. Nesse
aspecto, é evidente que a competitividade entre as organizações está em uma
verdadeira crescente, por isso, as empresas que procuram e oferecem algum
diferencial ao seu cliente aparecem na dianteira de seus concorrentes. Mas o que
significa esse diferencial? É inventar algo, aperfeiçoar uma invenção já
existente (inovar), ou copiar um produto e fazer pequenos ajustes?
Pontos de vista
Um estudo realizado pelo professor Oded Shenkar, da instituição Fisher
College Business nos EUA, sobre o impacto de invenções em modelos de negócios e
suas imitações posteriores revelou que as imitações são importantes fontes de
avanço para a evolução dos produtos. No estudo foi revelado que 97,8% do valor
gerado por invenções vão para os "imitadores".
Mas o que seriam exatamente essas imitações?
Em entrevista à revista Harvard Business Review Brasil, o professor Shekar
fala que a boa imitação é aquela que agrega novos valores à invenção. São
aquelas pessoas que vêem algo já existente e conseguem transformar aquele
produto ou serviço em algo ainda melhor.
"O problema é que muitos imitadores se deixam seduzir pelos elementos
visíveis de uma invenção e não copiam aquilo que garante seu sucesso, as 'vigas
estruturais'. Às vezes, imaginam equivocamente que o que deu certo num lugar vai
dar certo em outro. Outros ficam tão presos ao original que acabam não fazendo
ajustes que tornariam uma inovação melhor.", afirma o pesquisador Oded Shenkar
para a revista HBR.
Marcos Morita, professor de estratégia e marketing da Universidade Mackenzie,
comenta que os graus de imitação variam muito conforme os segmentos de mercado
estudados. Em alguns como o farmacêutico, a imitação é impossível, haja vista as
patentes.
"Vale salientar que há imitações positivas, quanto negativas. As primeiras
são aquelas que agregam valor ao produto ou serviço inicial, conforme
expectativas dos consumidores. Aqui se enquadram, por exemplo, os produtos
japoneses e agora coreanos. Já as segundas (imitações negativas), fazem cópias
puras e simples, sem que nenhum valor seja agregado, além do preço baixo",
declara o professor Morita.
Para Felipe Scherer, sócio da Innoscience Consultoria de Gestão da Inovação e
autor do livro Gestão da Inovação na Prática, essas imitações como cópias não
podem ser consideradas estratégias de sucesso, mas faz uma observação.
"Isso não significa que aqueles que apenas copiam não ganharão dinheiro
também, porém o 'filé da rentabilidade' normalmente está associado à
possibilidade de ser o diferencial do segmento e, consequentemente, não ter um
parâmetro de comparação".
Ele ressalta que às vezes não é necessário ser o pioneiro, mas é necessário
sempre buscar inovar em seu segmento. "Ford não inventou o carro, porém
desenvolveu uma forma de fabricá-los mais barato. O Cirque de Soleil não
inventou o circo, porém conseguiu criar uma combinação de atrações melhor.
Empresas como a 3M, Microsoft, Apple, Disney conseguiram manter um histórico
contínuo de inovações e sempre agregam valor a sua marca", ressalta Felipe
Scherer.
Invenção: E como ficam as patentes?
As patentes são um modo do governo dar ao inventor a propriedade de sua
criação. Por um determinado período, os portadores de patentes têm permissão de
controlar como suas invenções são usadas, permitindo que obtenham recompensa
financeira sobre seu trabalho.
O professor Marcos Morita explica "que o papel das patentes é proteger os
investimentos realizados pelas empresas, tais com as indústrias de medicamentos,
nas quais este prazo perdura por 20 anos. Mesmo nestes casos, há governos que
acabam quebrando este direito em nome do bem comum. Em outras indústrias,
patentear um produto ou serviço é tarefa bem mais difícil e onerosa".
Para Morita, o mundo caminha para um sistema de inovações abertas ou "open
innovations", nas quais o papel dos consumidores na concepção dos produtos é
cada vez maior. "A web 2.0 traz este conceito em sua natureza. Veja o exemplo da
Creative Commons, organismo internacional que regula a questão da propriedade
intelectual, criando diversas modalidades conforme o uso e autor. Outro exemplo
inimaginável foi a FIAT através do projeto MIO – (meu carro em italiano), no
qual mais de 3000 projetos foram recebidos".
O consultor Felipe Scherer é absolutamente a favor das patentes e diz que,
dessa forma, incentiva o mercado de invenções. "Sempre haverá risco e incerteza
quando as empresas estiverem desenvolvendo coisas novas, portanto parte da
recompensa advém dessa possibilidade de haver a proteção pelas patentes. Por que
uma empresa iria gastar milhões de dólares em pesquisas para desenvolver
determinada vacina ou medicamento se esse investimento não pudesse ser
recuperado e o prêmio pelo pioneirismo recebido? É claro que as patentes
funcionam bem em alguns setores enquanto que em outros, o melhor mesmo é
continuar inovando.", conclui o consultor.